Quem vive em um relacionamento percebe que, às vezes, momentos extremamente normais acabam gerando estresses desnecessários. Coisas como escolher um restaurante para o jantar podem ser mais complicadas do que deveriam.
Quem nunca se deparou com essa cena:
MARCOS: Vamos sair pra comer?
CARLA: Vamos! Onde?
MARCOS: Onde você gostaria de ir?
CARLA: Eu? Ah, eu sempre escolho. Hoje escolhe você!
MARCOS: Por mim tanto faz. Não estou com vontade de ir a nenhum lugar específico, escolhe algum restaurante que tenha o que você esteja com vontade de comer e a gente vai.
CARLA: É impressionante, Marcos. Você nunca escolhe, sempre sou eu que escolho o restaurante. Escolhe você dessa vez, pô!
MARCOS: Mas Carla, o que adianta eu escolher se você sempre recusa minhas sugestões? Já falei, por mim tanto faz… você, que é cheia de coisa com comida, que escolha.
CARLA: Mas aí eu escolho, a gente vai e você não gosta, aí coloca a culpa em mim.
MARCOS: Que coloco a culpa nada. Deixa de drama.
CARLA: Ai, Marcos, que droga. Você nunca escolhe o restaurante. Pelo menos uma vez na vida, seja proativo e escolha. Quero ser surpreendida.
MARCOS (sussurrando): Ihhhh….
CARLA: QUÊ?
MARCOS: Nada. To pensando aqui… não é melhor você sugerir um restaurante e se eu estiver de acordo a gente vai?
CARLA: Ah, mas você aceita qualquer restaurante que eu sugiro. Aí depois fica resmungando que a comida era mais ou menos, que o atendimento era ruim… já joga a culpa em cima de mim.
MARCOS: Que jogo a culpa o quê, Carla. Se o atendimento é ruim por que a culpa seria sua? Deixa de paranoia.
CARLA: Você está me chamando de maluca?
MARCOS (cansando): Não, Carla. Só quero que você diga o que você quer comer, numa boa.
CARLA: Não. Hoje é você que escolhe! Eu sempre escolho, hoje é você. Diz aí que a gente vai.
MARCOS: Posso escolher mesmo?
CARLA: Bora, Marcos. Decide logo isso, seja homem.
MARCOS: Hum… Vamos no Mendy’s, então?
CARLA (torcendo o nariz): No Mendy’s?
MARCOS: Ué, você adora o salmão de lá.
CARLA: É, mas hoje eu não estou muito de salmão.
MARCOS: Ah… tá… Vamos no Outback, então. Tô afim de uma costelinha.
CARLA: Outback de novo? Escolhe outro.
MARCOS: Se você não quer os que eu escolho, diz qual você quer!
CARLA: Não, não é isso. Só não quero o Mendy’s porque não estou no clima de salmão e o Outback porque a gente vai lá direto. Mas escolhe outro aí que a gente vai.
MARCOS: Vamos comer uma pizza lá no Diagonal então!
CARLA: Mas, pizza? Pizza não é janta. Eu estava esperando um restaurante de verdade, não um bar.
MARCOS: Restaurante tipo qual?
CARLA: Ah, sei lá… um outro. Escolhe aí qualquer outro.
MARCOS: Vamos no Luigi, então.
CARLA: Comida italiana?
MARCOS: Ah, Carla… desisto! Vamos ficar em casa então.
CARLA: Uiiiii, que drama! Deixa de ser estressado. Tá bom, vamos no Luigi então, já que você quer…
UMA HORA E MEIA DEPOIS, NO LUIGI, OLHANDO O CARDÁPIO
GARÇOM: Vocês já decidiram o prato?
MARCOS: Eu vou querer esse aqui… Spaghetti alla matriciana.
GARÇOM: … alla matriciana. E a senhora?
CARLA: Eu vou querer esse salmão grelhado com linguine, por favor.
MARCOS: Salmão? Mas você não disse que não estava afim de salmão hoje?
CARLA: É, mas o cardápio aqui não tem nada que tenha despertado o meu apetite.
MARCOS: Se você não queria o Luigi, porque aceitou vir aqui?
CARLA: Você não me deu escolha, né?
MARCOS (respira fundo e se acalma): Na próxima vez você escolhe então.
CARLA: É. Você nunca quer escolher nada e fica jogando a responsabilidade pra mim. Às vezes sua passividade me irrita.
MARCOS: Tá bom. (virando o resto da taça de vinho de uma vez e engolindo como se fosse uma pedra)
UMA HORA DEPOIS, PAGANDO A CONTA.
MARCOS: Tava bom o seu salmão?
CARLA: Não estava tão bom quanto o do Mendy’s, mas… enfim… acho que hoje uma costela do Outback teria caído melhor mesmo.
MARCOS: Tá. Então na próxima vez a gente vai lá.
CARLA: É. Se eu puder escolher, né…
FIM